Pular para o conteúdo principal

Roteiro Homilético para o XXVII Domingo Comum – A -TRABALHAR NA VINHA DO SENHOR

Ir. Aíla L. Pinheiro de Andrade, NJ

 

I. INTRODUÇÃO GERAL

(Texto publicado originalmente em Revista Vida Pastoral n. 280 de setembro-outubro de 2011).

O tema da vinha é predominante na liturgia de hoje. Trata-se de parábola comum ao Antigo e ao Novo Testamentos da qual primeiro os profetas e, depois, Jesus se serviram para falar do amor de Deus e da ingratidão do ser humano. Na primeira leitura, Isaías descreve a história de Israel como a história da vinha que o Senhor plantou e à qual deu condições para que produzisse bons frutos. O evangelho resume a metáfora de Isaías e a desenvolve, falando de outros imensos benefícios feitos por Deus, primeiramente o envio dos profetas e, enfim, o envio do Filho como prova suprema de amor. A segunda leitura pode ser tomada como um convite à gratidão para com Deus e como compromisso de nossa parte para darmos abundantes frutos de boas obras.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. Evangelho (Mt 21,33-43): Entregarão os frutos no tempo certo

Numa releitura do texto de Isaías, o evangelho de hoje vem acentuar a importância dos líderes religiosos no exercício de sua missão na comunidade: cuidar da vinha.

O cultivo da vinha exige muita dedicação, porque ela representa frequentemente os escolhidos de Deus, que são muito valiosos para ele. O dono da vinha esteve distante até o tempo em que ela deveria dar frutos e a confiou a “empregados”. Jesus está dizendo a seus interlocutores que eles são apenas servos de Deus, que a função deles é entregar os frutos para o verdadeiro dono, mas eles quiseram fazer as coisas do jeito deles.

Os servos quiseram a parte que pertencia a Deus. Mas somente o Senhor tem a última palavra na condução do povo. E somente a Deus pertence o louvor, não aos líderes religiosos. Então a liderança religiosa já não estará com aquele grupo; caberá a quem fizer a vinha produzir frutos para Deus.

Essa realidade criticada pelo evangelho está presente na Igreja em todos os tempos, porque o ser humano é sempre tentado a usurpar o lugar de Deus. Para aprendermos a assumir nosso papel na liderança da comunidade, basta olhar para Jesus, que não se apegou a seu ser igual a Deus, mas assumiu a condição de servo (cf. Fl 2,6-7). E ele é o herdeiro da vinha. Por isso, Jesus é o caminho a ser seguido não somente pelos líderes religiosos, mas por todos os cristãos que queiram realizar na sua vida a vocação humana e cristã: ser para Deus. Se realizarmos essa vocação, certamente a vinha do Senhor dará muitos frutos no seu tempo.

2. I leitura (Is 5,1-7): Esperava que produzisse uvas boas

O poeta canta em versos a história de amor entre seu Amigo e a vinha. Primeiramente destaca o cuidado que seu Amigo teve para com ela: preparou a terra, plantou mudas selecionadas; deu-lhe proteção permanente com vigias, construindo uma torre; evitou que as uvas se estragassem, fazendo um tanque de amassar uvas. Esses cuidados fizeram dela uma “vinha preciosa” (Jr 2,21). Contudo a vinha não correspondeu às expectativas de seu proprietário. Para Isaías, a vinha é Israel e Judá, a totalidade do povo de Deus. Que expectativas não foram correspondidas? O exercício da justiça e do direito.

O poeta afirma que seu Amigo, o proprietário da vinha, identificado com o Senhor dos exércitos, convoca os moradores de Jerusalém para julgar a vinha. O proprietário faz duas perguntas: a primeira sobre as próprias atividades, e a segunda sobre a produção da vinha. No final, o proprietário dá uma sentença, anunciando o que fará. E suas atividades para com a vinha serão o oposto dos cuidados iniciais. O ápice é o v. 7, no qual estão em contraste as expectativas de Deus e a resposta negativa do povo.

A vinha não produz os frutos esperados, o povo não realiza obras que agradam a Deus, especificamente a justiça e o direito. Essas palavras da primeira leitura são bem atuais; hoje elas se dirigem a nós que somos povo de Deus em Jesus Cristo.

3. II leitura (Fl 4,6-9): Ocupai-vos com tudo o que é bom

O texto da segunda leitura traça um itinerário para que o cristão possa ter uma práxis que seja fruto de seu relacionamento com Deus.

Primeiramente diz: “Não vos preocupeis com coisa alguma”. Isso não significa ser irresponsáveis nas tarefas, nas atribuições, nas profissões, nos relacionamentos familiares etc., e sim que as preocupações com o cotidiano não devem tomar demasiado espaço em nossa vida. Quanto mais se confia em Deus, tanto mais os pensamentos ficam livres de aflições e ansiedades (cf. Mt 6,25 e 1Tm 5,8).

Se alguma situação se torna muito difícil para nós, então devemos nos reportar a Deus com orações e súplicas. A palavra “súplica”, no idioma em que o texto foi escrito, denota o sentido de algo do qual necessitamos muito, de alguma coisa vital para nós. Mas as orações e súplicas devem estar unidas à ação de graças, porque devemos agradecer a Deus antes mesmo de receber a resposta dos nossos pedidos. Talvez Deus não realize exatamente o que esperamos, mas sabemos que ele sempre responde às nossas orações e por isso devemos agradecer imediatamente.

Em seguida, após depositarmos nossas dificuldades nas mãos de Deus, então já não estaremos tão estressados como antes e poderemos saborear “a paz que supera todo entendimento” (v. 7). Sentimos paz não porque a situação foi resolvida, mas porque ela já não nos sufoca – afinal, somos a vinha bem cuidada de Deus. E como nossa mente já não está sobrecarregada com preocupações e ansiedades, então podemos nos ocupar com o que é essencial (v. 8): levar uma vida exemplar no mundo (dar testemunho), sendo verdadeiros, sabendo respeitar a dignidade do outro, sendo amáveis, sendo puros, enfim, praticando as virtudes.

Paulo termina dizendo que esse comportamento os filipenses aprenderam observando o modo como ele, Paulo, se comportava. Quem dera as pessoas pudessem também aprender essas coisas pelo testemunho dos cristãos. Então o mundo inteiro seria uma vinha que produz frutos agradáveis para Deus.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Também para os membros da Igreja valem as palavras de Isaías e de Jesus; por isso a homilia deve evitar estabelecer contraposição entre Israel e Igreja, para não deixar os cristãos numa posição muito confortável. Se a vinha, que é a vida de cada fiel na Igreja, não der frutos, Jesus dirá hoje as mesmas palavras que dirigiu aos líderes religiosos da sua época.

Estamos iniciando o mês missionário, e todo batizado deve ser “vinha do Senhor”, dar frutos e evitar o comodismo que freia a missão. Esta não deve ser entendida como atividade individual e fruto de recursos e capacidades humanas, mas sempre como colaboração com a obra missionária de Cristo, pois ele é a origem e fonte de toda atividade missionária na Igreja.

* Aíla L. Pinheiro de Andrade é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Leciona na Faculdade Católica de Fortaleza e em diversas outras faculdades de Teologia e centros de formação pastoral.

Mais em Instituto Religioso Nova  Jerusalém

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Agradecimento aos dizimistas

O Dízimo é um mandamento bíblico. Como tal, ele é também um direito que todo cristão tem de ofertar uma parcela de seus rendimentos, como meio de agradecer a Deus e de colaborar com sua Igreja. Dízimo é um sinal de compromisso de fidelidade com Deus, com a Igreja e com os pobres. Jesus, na sua bondade infinita, instituiu a sua Igreja, para ela evangelizar, catequizar, servir e santificar. E para que ela possa desempenhar a sua vocação evangelizadora no mundo, necessita de recursos materiais e esses recursos devem provir de nós, seus filhos, que somos e formamos a Igreja viva de Cristo aqui na terra.  Com o dízimo você ajuda a transformar a Igreja para que ela seja cada vez mais unida e fraterna, a fim de que possa cumprir sua missão evangelizadora como Jesus a quer.  Agradecemos a você, dizimista, pela sua generosa colaboração. Graças a ela, está sendo possível manter as Pastorais e a Evangelização. De modo especial estaremos rendendo louvor a Deus por todos os dizimistas no dia 21

Parabéns! Padre Leonardo Wagner, pároco de Eusébio - Paróquia Sant Ana e São Joaquim

Recebi hoje a notícia, já esperada, da nomeação de Pe. Leonardo Wagner, CCSh para pároco de Eusébio-CE, ele atuou como Vigário Paroquial de Guaiúba-CE, ainda na Comunidade de Aliança Shalom não é tão conhecido pelas "curas" como o Pe. Antônio Furtado, mas, pelos jovens do Acamps, pela sua maneira ímpar de evangelizar e atrair para Deus a juventude. De modo particular o conheci quando o mesmo era seminarista e coordenava a Liturgia Shalom, na época impecável, sempre carismático e zeloso com a casa de Deus, inclusive ao lado de Janice Dantas, secretária da liturgia na época, reformou a sacristia shalom da paz (transformando a antiga sala em sacristia-pequeno sagrado). Além da sacristia, na sua gestão, foi abençoado o conjunto presbitério -  Altar, Ambão e Sédia. Quem o conheceu e viveu este tempo, na liturgia shalom, sabe o quanto Pe. Leonardo foi e é importante para cada um que conviveu este tempo de graça. Parabéns, Pe. Leonardo, seja realmente, o que Deus quis para você, pas

Roteiro celebração para o 18o. do tempo comum - dia dedicado a vocação sacerdotal

Paróquia Cristo Redentor 18º. DOMINGO DO TEMPO COMUM ABERTURA DO MÊS VOCACIONAL - Dia dedicado a vocação sacerdotal RITOS INICIAIS Irmãos e irmãs, mais um domingo, dia do Senhor, dia em que nos reunimos para celebrar a nossa fé no Cristo Ressuscitado. Neste domingo, por meio de sua Palavra, Deus nos convoca a revermos nossas opções e nos ensina a colocar toda a nossa confiança no Senhor que é refúgio e proteção. O mês de agosto é, na Igreja do Brasil, um tempo dedicado mais particularmente às vocações. Neste primeiro domingo, lembramos os ministérios ordenados: bispos, padres e diáconos. (Neste momento pode-se lembrar o nome dos padres de nossa paróquia.) Alegres por todos os sacerdotes que se doam a serviço do Reino e por todos os motivos que nos levam a celebrar a nossa fé e vida, cantemos. LITURGIA DA PALAVRA A Palavra de Deus é luz para os nossos olhos e sustento para os nossos pés. Quem dela se alimenta consegue discernir e criticar tudo o que não conduz à plena realização huma