Para todos os lados onde olhamos encontramos sinais muito claros de patriotismo e torcida pela seleção brasileira de futebol. É admirável o entusiasmo e vigor com que jogadores se empenham, torcedores se manifestam numa corrente de energia que procura alcançar o prêmio do Campeonato Mundial de Futebol na África do Sul. Todas as atenções se voltam para a luta dos heróis em campo. A nação parece parar ao soar do hino nacional e ao estrilar do apito do árbitro, dando início à peleja.
Alguém comenta: “Como pode um país parar por causa de um jogo de futebol? Onde já se viu isso?”
Uma idéia força, uma motivação, envolve todo um povo no desejo de chegar à conquista que, se espera, elevará ao máximo toda a auto-estima da nação brasileira!
Não posso deixar de me lembrar de uma comparação feita pelo apóstolo São Paulo na sua primeira carta escrita aos cristãos de Corinto: “ 24Acaso não sabeis que, no estádio, todos correm, mas um só ganha o prêmio? Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio. 25Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível!” (1 Cor 9)
Quanto empenho, quanto esforço, quanto entusiasmo, quantos sacrifícios humanos e luta até o extremo das forças, por “uma coroa corruptível.”! Assim se empenham no campo os próprios lutadores diretos, corpo a corpo com os adversários. Assim se envolve a comissão técnica, treinadores e colaboradores diretamente envolvidos em preparar o melhor possível os que deverão conquistar a “coroa”, uma copa, por alguns anos! Assim se emociona uma imensa multidão que acompanha com todo entusiasmo, com a força de uma torcida, para um título que durará até o próximo campeonato mundial.
Mais... muito mais! “Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível!” (1 Cor 9)
A coroa da Vida, da Vida em plenitude, que nos vem como dom de Deus e conquista de nossa fé e esforço de caridade – Vida divina a nós partilhada pelo próprio Filho de Deus, por nós acolhida com co-responsabilidade.
Um outro Paulo, João Paulo II, em visita a esta nossa terra de campeões de futebol, chamou o povo entusiasmado que o acolhia como mensageiro de Cristo, em multidões tão ou mais emocionadas que as torcidas dos estádios, a uma conquista maior. “Mais uma vez vos digo: o Brasil precisa de santos, de muitos santos! A santidade é a prova mais clara, mais convincente da vitalidade da Igreja em todos os tempos e em todos os lugares.” (Homilia na beatificação de Madre Paulina – 18/10/1991)
Mas ser santo faz parte de um campeonato? Campeonato sim, mas diferente. Não um campeonato exclusivo, que faz muitos perdedores e poucos ganhadores. Sim, campeonato inclusivo, que quer fazer o maior número possível de ganhadores, na luta pela Vida, na Vida que não termina.
Ainda João Paulo II na mesma ocasião: “Ser santo significa opor-se ao pecado, à ruptura com Deus. O homem dessacralizado, não santificado, continua na escravidão do pecado e não é atingido pela ação do mistério pascal redentor do divino Salvador dos homens. A Igreja existe para a santificação dos homens em Cristo. É esta santidade que ela deve levar também aos homens do mundo secularizado para que não se profanizem. Por isso ela ensina também que santidade não é “alienação”, como às vezes se ouve dizer, mas uma maior familiaridade com as realidades mais profundas de Deus.”
Este é o momento que nos recorda o quanto ainda se tem a fazer pela auto-estima da pessoa humana de cada brasileiro. Mais... muito mais que um prêmio brilhante e passageiro!
Esta santidade, que faz que cada cristão deva ser Cristo presente entre os homens, lembra-nos, como foi dito em Puebla, que existe “um povo que nasce apenas de Deus, e se orienta para ele; ... os cidadãos deste povo devem caminhar na terra, mas como cidadãos do céu, com o coração enraizado em Deus, através da oração e da contemplação. Esta atitude não significa fuga do terreno, mas sim condição para uma entrega fecunda aos homens. Porque quem não aprendeu a adorar a vontade do Pai, no silêncio da oração, dificilmente conseguirá fazê-lo quando sua condição de irmão lhe pedir renúncia, dor ou humilhação” (Puebla, 250-251 citada por João Paulo II na mesma homilia).
Este campeonato pede e dá “Mais... muito mais!”
Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo de Fortaleza(Mantido o texto na íntegra - Palavra do Pastor - Arquidiocese de Fortaleza)
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